Capítulo 2: Meu Inferno Pessoal é Sua Terra Prometida

Resumo:
Liberdade é nossa contanto que escapemos
Notas da autora:
Posso dizer que eu odeio como você tem que capitalizar os títulos. Tipo, quem inventou isso? Pare.
De qualquer jeito, eu realmente quero me divertir com essa fic, então me desculpem se meu senso de humor não é do seu agrado. Eu me diverti tanto escrevendo isso, e é isso que eu quero. Quero dizer, essa é uma fanfiction para um casal que eu absolutamente adoro, então eu só quero que seja relaxada e descontraída. E, bem, divertida e fofa.
 :)
P.S. Eu realmente não consigo acreditar que demoraram duas fics para eu finalmente incluir meu querido Jean. Na verdade, ele era um dos primeiros personagens que eu adorei (além do Eren, por que fiquei tietando extremamente o Eren desde o primeiro episódio e primeiro capítulo do mangá).

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Depois de uma hora na praia, começou a chuviscar. Eu estava sentado em frente ao fogo perto de Jean, quando a primeira gota caiu em minha bochecha. Eu inclinei minha cabeça para trás, olhando para o céu por cinco segundos antes de levantar. Eu morava em Shiganshina tempo suficiente para saber que iria chover em questão de minutos. De jeito nenhum eu ia ficar ali para me molhar.
Todos a minha volta se levantaram também – todos exceto Eren, que parecia um pouco alegre demais sentado em sua cadeira de rodas com meu casaco engolindo seu tronco. Quando ele viu que mais da metade do grupo já estava subindo o caminho para o estacionamento, ele baixou o rosto, as sobrancelhas se unindo em confusão. Ele não fazia ideia que não ‘só chuviscava’ nessa cidade. Nós literalmente vivíamos pelo ditado “Quando chove, chove a cântaros”.
Petra ficou de pé, batendo a areia de seus jeans antes de andar para trás da cadeira de rodas. “Hora de ir,” ela lhe disse, segurando nos punhos.
“Mas por que? Nós nem estamos aqui há muito tempo.” Ele virou a cabeça para olhar o oceano com saudade. O que ele via naquele vasto corpo de água salgada que o fazia olhar para aquilo daquele jeito?
“Vai começar a chover forte,” ela disse.
Como se aproveitando a deixa, a chuva caiu e eu fui deixado ali para senti-la molhar minha fina camiseta. Eu podia dizer pela expressão de Eren que ele seria teimoso sobre subir o caminho sozinho, então eu tomei o assunto em minhas próprias mãos, por que eu não queria ficar mais molhado do que já estava.
“Coloque seus braços em volta do meu pescoço", eu disse, me inclinando sobre ele. Quando ele me deu um olhar confuso, eu acrescentei “Eu não vou ficar aqui esperando que você conduza seu traseiro colina acima. Petra pode empurrar sua cadeira até a caminhonete. Vai ser muito mais fácil se você não estiver nela.”
Petra deu a ele um olhar complacente, mas disse, “É verdade.”
“Certo,” ele resmungou baixinho, enlaçando os braços em volta de meu pescoço sem fazer contato visual. Eu passei meu braço por trás de seus joelhos e o levantei contra meu peito. “Aqui é sempre desse jeito?”
Eu comecei a andar em direção ao caminho, meus pés afundando na areia empapada com cada passo. Petra vinha logo atrás. “É. Aqui chove o tempo todo.”
“E se não está chovendo", Petra disse, “está ventando forte.”
Eren suspirou, mergulhando a cabeça mais fundo no capuz do meu casaco. Ele não disse mais nada enquanto eu continuei a subir em direção ao estacionamento, que não era nem um pouco difícil, considerando que ele pesava tão pouco. Isso fez eu me perguntar o quão doente ele realmente era, mas não tardei nesse pensamento. Não era da minha conta.
No tempo que cheguei na caminhonete, nós dois já estávamos ensopados. Eu vi que Jean já fizera-se confortável lá dentro, nos oferendo um pequeno aceno enquanto eu escancarava a porta do carona.
Que imbecil.
“Você poderia ter ajudado,” eu resmunguei, baixando Eren no assento. Ele desenlaçou os braços do meu pescoço, balbuciou um obrigado, e continuou a tremer como uma folha. Os dentes dele estavam batendo, mas não foi isso que prendeu minha atenção. Foi o jeito que ele estava respirando que prendeu. Era como se ele não conseguisse respirar fundo. “Você precisa de seu cilindro de oxigênio?”
Aqueles olhos verdes encontraram os meus e ele assentiu.
Eu subi na caminhonete, empurrando Jean para o lado com mais força que a ação exigia, então puxei o cilindro de oxigênio de Eren para o meu colo. Tinha um tubo transparente pendurado no topo que eu segurei e entreguei a ele. Ele rapidamente o colocou. O tubo se dividia embaixo de seu queixo, passava por trás de suas orelhas, e então se uniam em suas narinas. Depois daquilo, ele usou algum tipo de chave para virar um botão no tanque de oxigênio.
Uns dois minutos depois, sua respiração compensando e eu perguntei, “Melhor?”
Ele sorriu. “Hmm.”
Por alguma razão, alívio se apoderou de mim. Apesar de o momento ter sido cortado quando Jean apontou para o tubo transparente e disse, “Que diabos é isso, afinal?”
“Isso?” Eren perguntou, mexendo o tubo. “Isso é uma cânula nasal.”
Jean inclinou a cabeça para o lado, parecendo uma galinha idiota. “Uma o quê nasal?”
Eu teria feito alguma observação inteligente para aquilo, se eu de repente não tivesse escutado Petra lutando para colocar a cadeira de Eren na carroceria. Com um suspiro, eu empurrei a porta, odiando que eu teria que me molhar de novo, mas o que mais eu faria? Se Petra não saisse logo da chuva ela ficaria doente.
Quando eu estava do lado de fora de novo, andei lentamente para a traseira, dei uma olhada em Petra lutando para levantar a cadeira de rodas, e só fiz arremessá-la para cima da carroceria. Ela me lançou um olhar de você-fez-mesmo-isso, mas eu ignorei completamente. “Agora vamos dar o fora dessa chuva,” eu disse a ela, já voltando para o lado da porta do carona.
Uma vez que estava dentro, eu me inclinei para frente no assento para espiar pelo para-brisas. As nuvens pareciam um lençol grosso e cinza cobrindo o céu. Eu podia dizer só de olhar para elas que esse aguaceiro se tornaria em uma tempestade completa em breve. As tempestades aqui eram horríveis. Elas não deveriam ser subestimadas, e dirigir durante elas era completamente idiota.
“Minha casa é a mais próxima,” Petra disse enquanto saltava para o banco do motorista. “Vocês podem ficar lá até essa tempestade passar.”
Jean e eu não fizemos comentários. Nós estivéramos na casa de Petra milhares de vezes. Eren, por outro lado, ainda era novo aqui e parecia um cervo pego pelos faróis. Ninguém além de mim parecia notar. Jean começou a balbuciar sobre como os s’mores do treinador Smith deram extremos gases no Reiner, enquanto Petra apenas ligou o motor e queimou pneus enquanto saía do estacionamento.
Por que aquela expressão preocupada me fazia querer confortá-lo?
Que irritante.
“Isso não vai durar a noite toda,” eu disse a ele.
Ele abraçou o cilindro de oxigênio contra o peito como se isso diminuísse sua preocupação. “Unkay.”
Dirigir nessa chuva era um pé na bunda, e eu nem era a pessoa fazendo isso. Petra ainda conseguiu nos levar à casa dela em tempo recorde, apesar de eu estar surpreso por ainda estarmos vivos. Ela dirigiu como um maníaco sob essas condições.
Quando ela estacionou na entrada, ela se virou para nós. “Levi, você vai ter que carregar Eren de novo.”
Eren deu um guincho para isso, mas eu apenas o puxei para o meu colo. Quanto mais cedo estivéssemos dentro, mais cedo eu poderia dar o fora dessas roupas molhadas.
Jean empurrou a porta do carona e eu esperei até que ele estivesse fora antes de pisar no pavimento. Eren meio que se encolheu em uma bola nos meus braços, o que fez o topo do cilindro de oxigênio afundar no meu queixo, mas eu só ignorei isso e continuei andando até a porta de entrada. Agradecidamente, ela já estava aberta quando cheguei lá.
Já que eu sabia que ele não podia andar, eu o levei à sala de estar e o sentei em frente à lareira. Então eu me estiquei e agarrei as costas da minha camisa para puxá-la por cima da minha cabeça. Quando ela não estava mais em mim, me senti instantaneamente melhor. Eu odiava o jeito que roupa molhada gruda na minha pele.
Enquanto eu chutava meus sapatos, eu vi que Eren estava me olhando de olhos arregalados.
“Que?” Eu perguntei. Ele baixou o olhar imediatamente, balançando a cabeça de um lado para o outro. “Você deveria tirar suas roupas molhadas também. Se não, você pode pegar uma droga de pneumonia. Eu tenho umas roupas aqui que vou lhe emprestar.” Ele abriu a boca como se fosse protestar, mas eu o encarei até ele assentir em concordância.
Deixando ele lá sentado, eu caminhei para o quarto de Petra, onde Jean já estava meio despido. Eu o ignorei enquanto ele puxava seus jeans e fui até o armário para tirar algumas das roupas que eu mantinha aqui. Eu juro que praticamente vivia nas casas do Jean e da Petra. Era raro quando eu realmente ia para casa.
“Me joga uma camiseta,” Jean disse. Eu peguei uma blusa preta do Nirvana e joguei para onde parecia ser na direção dele. “Então, o que você acha daquele garoto?”
“Eu não acho nada dele.”
Ele cruzou os braços sobre o peito, sorrindo como um retardado. “Mesmo? Então aquela coisa toda de ‘você parece com o verão’ não foi nada.”
Porra. Eu sabia que isso voltaria para me morder a bunda.
Eu encolhi os ombros, parecendo entediado. “Foi você quem fez ele parecer um filhotinho com aquele comentário de ‘você nunca verá o sol novamente’”
“Por que você se importa?” Ele levantou uma sobrancelha, o sorrisinho se transformando em um estúpido sorriso afetado que levantou os cantos da boca dele.
Eu queria socar ele para fora.
“Eu não me importo.” Não de verdade.
“Claro, Levi,” ele disse, passando a blusa pela cabeça dele antes de passar os braços pelas mangas. “Eu conheço você desde que usava fraudas. Você pode enganar a si mesmo sobre isso, mas você não pode me enganar.”
“Enganar você? Poderia calar logo a porra da boca. Eu não tenho interesse nenhum nele, então pára. Eu só estou tentando ser legal uma vez na minha vida miserável. Quero dizer, o garoto tá numa droga de cadeira de rodas. Eu estou dando uma folga a ele.”
O sorriso se alargou. “Tudo bem, então. Vejo você lá na sala de estar.” Ele saiu sem mais uma palavra.
Eu encarei ele, me perguntando que porra tinha acabado de acontecer. Eu não estava interessado no Eren. Disso eu tinha certeza. Jean entendeu tudo errado. Eren era só alguém novo nessa cidade de merda, alguém fora do comum com olhos insanamente lindos. Isso não significava que eu estava interessado nele. Em duas semanas, eu nem o veria de novo.
Irritado, eu tirei meus jeans e entrei no banheiro de Petra para jogá-los na banheira. Então peguei uma toalha e me sequei com ela, raivosamente esfregando meu cabelo até que ficasse em pé como um ninho de pássaro. Meu reflexo no grande espelho do banheiro me encarava com olhos furiosos.
Eu não estava interessado em ninguém—especialmente não em alguém que vivesse nessa cidade. Jean era só um idiota. Ele não sabia de coisa alguma.
Jogando a toalha para o lado, eu voltei para o quarto de Petra para me vestir com uma blusa cinza e calça jeans. Eu não tinha muitas roupas aqui, porque eu geralmente ficava na casa do Jean, mas eu consegui encontrar uma blusa vermelha e calças xadrez de pijamas que dariam no Eren.
Eu prendi elas embaixo do braço enquanto saía para o corredor que dava na sala de estar. A cena que me cumprimentou quando cheguei lá era uma visão de familiaridade. Jean estava jogado no sofá com uma tigela de sopa. Petra estava jogando toras na lareira, ajustando-as com um atiçador até que ficassem retas na grelha. A única pessoa deslocada era Eren, que ainda estava sentado onde eu o deixara.
Ele tinha tirado sua blusa e cânula, uma toalha enrolada em seus ombros esguios. Ele a segurava perto de seu peito, parecendo na defensiva. Eu podia ver seu tremor de onde eu estava, então fiz meu caminho até ele e lhe estendi as roupas que trouxera.
“Elas devem dar,” eu disse.
Ele as pegou de mim. “Obrigado.” Ele soou tão baixo e educado. Eu nem conseguia me fazer agir friamente com ele, nem mesmo depois do que Jean dissera.
“Você precisa de ajuda?” Eu ofereci. Ele não estava exatamente se levantando de um salto para se vestir.
“Hum.” Ele mordeu o lábio preocupado, puxando a toalha para mais perto como se ele pudesse repelir seu repentino ataque de timidez com essa ação. “S-Sim. Quero dizer, se você não se importar.”
Eu revirei meus olhos. “Eu me ofereci, não foi?”
Eu não esperei por ele para me dar uma resposta. Eu o levantei colocando-o de pé, nem um pouco surpreso quando ele balançou para o lado. Eu envolvi os braços dele com minhas mãos, lhe dando estabilidade. “Você pode sequer andar?”
Ele sorriu tristemente, o olhar caindo para o chão. “Sim. Eu posso andar normalmente. Só é impossível eu respirar quando faço isso.” Ele tocou o próprio peito, o sorriso desaparecendo do seu rosto.
Okay. Ninguém deveria ter permissão de parecer tão triste. Sério, deveria ser contra a lei.
“Bem,” eu disse, carregando-o com facilidade, “Eu serei suas pernas por essa noite.”
O sorriso reapareceu e ele deu uma risadinha. “Obrigado, Levi.”
Eu ignorei o olhar de Eu-lhe-disse do Jean enquanto saía da sala de estar carregando Eren. Eu não estava fazendo isso por interesse. Eu estava sendo gentil. Apesar da crença popular, eu era capaz de ser gentil uma vez ou outra. Droga.
“Dói respirar o tempo todo?” Eu perguntei, repentinamente curioso.
Eren suspirou, respondendo à minha pergunta com um aceno de cabeça.
“Mas você parece tão feliz.” Por que eu não podia calar a boca? Geralmente Jean precisava enfiar algo na minha bunda (falando no sentido figurado) para arrancar uma frase de mim, e agora eu bem literalmente não conseguia manter a boca fechada.
“Eu sou feliz,” ele disse com um sorriso. “Antes de me mudar para Shiganshina, eu sempre ficava trancado em casa. Meu pai não me deixava sair sozinho para lugar algum, uma vez que morávamos em uma cidade grande. Ele tinha medo que eu desmaiasse e ninguém fosse capaz de me levar ao hospital a tempo. Mas essa cidade é tão pequena; ele não precisa realmente se preocupar comigo aqui. Essa é a primeira vez que posso ir a uma escola pública. Isso faz eu me sentir, não sei, normal.”
Enquanto essa cidade era meu inferno, ela era um tipo de terra prometida para o Eren: um lugar que ele podia percorrer livre sem precisar ser vigiado o tempo todo. Agora eu entendia porque ele não conseguia parar de sorrir, e porque o oceano o encantava.
“Entendo,” eu disse.
Quando estava de volta ao quarto de Petra, eu o joguei na cama. Ele aterrissou no colchão com um oof, mas não pareceu com raiva – exatamente o contrário, na verdade. Ele riu, aqueles olhos incríveis franzindo nos cantos enquanto ele sorria amplamente para mim.
Ele era um garoto bonito, o único nessa cidade que poderia ser chamado assim. Todos os outros eram modestos em comparação e eu considerei isso consequência de ele ser um rosto novo, alguém que eu não tinha visto desde que era uma criança. Não havia mais nada além disso. Eu não tinha que provar isso para ninguém, muito menos Jean. Eu sabia, e era tudo o que importava.
Para dar a ele alguma privacidade enquanto se despia, eu virei de costas para ele. Eu ouvi ele se desembaralhando de seus jeans, e então um leve sussurro de aprovação enquanto ele colocava as roupas secas que eu lhe dera. Quando ele me deu permissão para me virar, eu o encarei por tempo um pouco longo demais.
Ninguém mais jamais vestira minhas roupas, nem mesmo Jean. Tinha alguma coisa sobre meus itens pessoais que me faziam mantê-los desse jeito. Eu não gostava de ninguém tocando minhas coisas, então eu realmente não conseguia entender porque ver Eren em minhas roupas não me incomodava. Ele parecia aquecido enrolado em minhas roupas, e eu fiquei com esse sentimento estranho em meu peito, como se eu fosse vestir aquelas roupas de novo eu ficaria aquecido também.
Deus, eu estava bêbado? O treinador Smith tinha batizado as cervejas-de-raiz que nos deu, ou o que? Eu precisava de ar puro, o que era impossível nesse quase constante clima chuvoso idiota.
“Pronto?” Eu perguntei.
“Sim.” Ele estendeu os braços para mim e eu mordi forte a parte de dentro de minha bochecha para não sorrir. Essa não era uma reação que ele arrancaria de mim – nem essa noite, nem nunca.
Depois de levá-lo de volta à sala de estar, eu coloquei alguma distância entre nós. Eu até saí para a cozinha, feliz que não faltara energia. Eu precisava de café, ou qualquer tipo de cafeína, e eu não conseguiria fazer um pouco se não tivesse eletricidade para a cafeteira funcionar.
Pegando uma caneca do armário, eu liguei a cafeteira e esperei impacientemente que o café fosse despejado no bule. Enquanto encarava ele, desejando que aquilo se apressasse logo, eu pensei em como Eren provavelmente era a única pessoa aqui com um pai preocupado com seu paradeiro.
Meu tio não estivera por perto por um bom tempo. Continuava pagando as contas, mas nunca mostrava a cara perto de mim. O pai do Jean era o bêbado da cidade, mas desde que o velho bar na rua Queen tinha fechado, ele passava a maior parte do tempo em Trost. Assim como o Kenny, ele continuava pagando as contas, mas nunca voltava. O mesmo podia ser dito dos pais de Petra. Eles trabalhavam em Trost, então estavam sempre lá.
Nós éramos um bando de crianças tristes criando a nós mesmos com as provisões dadas.
“Ei,” Petra disse enquanto entrava na cozinha. Ela se suspendeu para a bancada. “Jean me enviou para apressar você. Ele quer assistir uma porcaria de filme que ele escolheu.”
“Jean pode esperar.”
Ela riu. “Eu sei disso.” Ela estreitou os olhos, examinando meu rosto. “Você está agindo estranho. Está se sentindo bem?”
“Estou ótimo.”
“Eu imaginei que você estaria feliz já que está indo embora em duas semanas.” Ela desviou o olhar e deu um suspiro.
Jean e Petra ainda eram júnior. Eles tinham mais um ano pela frente antes que pudessem escapar dessa cidade. Eu era o único sênior no nosso grupo. Eles me imploraram para ficar, então poderíamos todos sair dessa merda juntos, mas eu nem podia imaginar ficar nessa cidade por mais um ano. Eu queria sair.
“Eu terei tudo pronto no tempo que vocês se juntarem a mim,” eu falei para ela na esperança de apagar a expressão triste de seu rosto, mas não funcionou. Nunca funcionou. Ela sentia que eu a estava traindo, e suponho, que de certa forma, eu estava.
Ele pulou do balcão. “Apenas se apresse. Você sabe como Jean fica quando é deixado esperando.”
“Ele vira um cão furioso,” eu disse.
Ela riu, desaparecendo no hall.
Ela tendo ido, eu me deixei relaxar. Eu amava Petra e Jean. De verdade. Eles eram minha família, as únicas pessoas com quem me importava, mas essa cidade era tóxica para mim. Toda vez que eu ia para casa, eu era lembrado que o único parente de sangue que eu tinha nessa porra de mundo me abandonou voluntariamente para me prover sozinho. Ele me forçou a crescer ainda muito novo, para ser o adulto que providenciava, porque quem mais  se ofereceria para o lugar?
Ou cuidaria de mim mesmo, ou ninguém mais faria.
Eu voltaria para Petra e Jean. Eu voltaria. Eu não os deixaria aqui. Eles sabiam disso.
Enquanto eu estava ocupado lutando uma guerra mental, Eren entrou andando (andando!) na cozinha. Ele me pegou de surpresa e meu coração quase saiu pela boca. “Puta merda”, eu arfei. “Porra não faça isso. Eu pensei que você não podia andar.”
“Eu lhe disse”—ele respirou pesadamente—“que eu posso andar…muito…bem.”
Idiota. “Você também me disse que era quase impossível de respirar, seu idiota.” Sem pensar, eu fui até ele e coloquei minhas mãos na cintura dele para levantá-lo e sentá-lo no canto do balcão. “Eu vou pegar o seu cilindro de oxigênio.”
Ele assentiu, respirando irregularmente.
Eu sai da cozinha apressado, ignorando o olhar questionador de Petra quando alcancei a sala de estar. Porque eles não o pararam? Ele era in-porra-visível para eles, ou o que? Merda. Eles deveriam saber que ele não podia simplesmente valsar por aí. O imbecil tinha pulmões ruins. Eu pensei que fosse conhecimento compartilhado, mas aparentemente não.
Eu queria gritar ou brigar com eles, mas só peguei o cilindro de oxigênio de Eren e os deixei me encarando. Quando estava de volta a cozinha, eu me apressei até ele e passei a cânula (era assim que se chamava aquela porra?) por trás das orelhas dele. Ele deu uma inspiração longa e vacilante e eu apenas o encarei e esperei para confirmar se ele não estava para morrer de falta de oxigênio.
Dois minutos depois (pareceu um ano), ele disse, “Estou bem.”
Eu estreitei meus olhos para ele. “Você é deficiente mental? Por que você veio andando?”
Ele encolheu os ombros, evitando contato visual. “Você parecia chateado.”
“Então você testou o destino dando um passeio?”
Ele mordeu o lábio inferior e pareceu a beira das lágrimas. Merda. Eu tinha que deixar minha boca solta. Eu não pretendia fazê-lo chorar. “Eu sinto falta de andar,” ele sussurrou, lágrimas brilhando naquelas drogas de olhos perfeitos dele. “Me desculpe ter incomodado você, Levi. Eu não farei isso de novo.”
“Você não está me incomodando. Eu só…” estava preocupado com você, eu terminei na minha cabeça. Deus, esse garoto era uma parte ativa na minha vida por umas dez horas e eu já estava tão balançado assim por ele. Que inferno? Era por causa da condição dele? Ou era por causa da inocência dele? Podia ser as duas coisas, pelo que eu sabia. “Só vem até aqui, para eu poder carregar você para a sala de estar.”
Ele deu uma última profunda inspiração antes de se inclinar para a frente e passar os braços em volta no meu pescoço. Era estranho, carregar alguém. Eu tinha feito um propósito de ficar longe de qualquer tipo de afeto (não que fosse o que isso era). Eu só não queria ninguém para ser um peso, me prendendo a essa cidade, mas isso não era o que Eren estava fazendo. Ele não podia andar. Eu só o estava ajudando. Quero dizer, o garoto tinha quase apagado por ser um total imbecil.
Mesmo assim. Eu tinha que admitir que a sensação era boa. Ele era tão quente quanto parecia, e ele cheirava como a brisa do mar, que cheirava muito melhor nele do que de pé naquela praia.
De volta à sala de estar, eu vi que Jean já tinha começado o filme. Isso não me surpreendeu. Ele era um merda impaciente. O que me surpreendeu foi o jeito que ele e Petra estavam olhando para mim enquanto sentava o Eren no fim do sofá. Era como se eles estivessem me vendo pela primeira vez.
“Quê?” Vociferei, fazendo Eren pular um pouco de susto.
Petra balançou levemente a cabeça, um pequeno sorriso no rosto. Jean apenas bufou e disse, “Senta porra. O filme mal começou.”
“Então afasta, cuzão,” eu exigi, empurrando o ombro dele até que ele se movesse.
O filme que ele escolhera era algum filme de terror estúpido que fazia Petra gritar palavrões e arremessar porcarias na tela da TV. Ela estava encolhida contra Jean, que estava curvado para a frente com os cotovelos apoiados nos joelhos. Ele parecia intrigado com a cena diante de nós, que era de um cara cortando o rosto de outro cara. Era desagradável pra caralho, mas eu me recusava a soltar se quer um soluço.
Diferente de mim, Eren não conseguia segurar seus guinchos agudos ou seus arquejos sempre que o cara com a motosserra aparecia. Ele tinha se movido para mais perto de mim, os braços enrolados contra o peito. Sempre que alguém no filme gritava, ele e Petra gritavam junto com eles. Então nós ouvimos um alto estrondo de trovão bem em frente, e a casa tremeu, a energia foi cortada.
“GRAÇAS A DEUS!” Petra ganiu. “Eu nunca mais vou deixar você escolher um filme, Jean. Meu coração tá acelerado.”
Jean riu alto e demorado. “Nem era tão ruim assim, bebê.” Pelo que eu podia ver, que não era muito, ele estava se inclinando sobre ela. Ela o empurrou forte o suficiente para que desabasse no meu colo. “Caramba, bebê, eu gosto com violência, mas se acalme.”
“Cala a boca,” ela disse rispidamente. “Eu preciso dormir. Eren?”
Eren se agitou de volta a vida do meu lado. Ele tinha congelado no minuto que a energia parou. “Sim?”
“Quer dormir aqui?”
“Claro,” ele disse. “Eu não quero ir lá fora, de qualquer jeito.”
“E quem quer?” foi o comentário irritado de Jean. Eu o acotovelei.
“Aw, droga,” ele murmurou, esfregando no ponto. “Você e Petra abusam demais de mim.”
Petra se levantou, uma sombra mais clara contra a escuridão. “Não resmunga.” Ela esfregou o cabelo dele. “Venha dormir comigo. Sem energia, vai ficar frio aqui bem rápido. Eu juro que se você tentar alguma coisa, eu vou espremer seu pinto na hora.”
Ele se levantou para segui-la até o quarto dela. “Eu não vou tentar nada. Me dá um crédito. Meu tarado interior está descansando nesse momento.”
Quando eles desapareceram no corredor, Eren disse, “Vocês são bem próximos, huh?”
“É. Nós crescemos juntos. Petra e Jean são como meus irmãos.”
“Isso é legal, ser tão próximo de alguém.” Ele ficou em silêncio, uma bola enrolada pressionada contra as almofadas do sofá. “Petra não me disse onde dormir.”
“A hospitalidade dela foi à merda,” eu disse a ele. “Eu acho que não estamos realmente acostumados a ter alguém novo por perto. Ela provavelmente só espera que você se sinta em casa.” Eu sabia que era isso que ela esperava. Ela queria que Eren se sentisse confortável o suficiente para fazer o que quisesse na casa dela, mas ela estava esquecendo que Eren não tinha crescido nessa cidade com o resto de nós gente de Shiganshina.
“Mm,” ele cantarolou, descansando a cabeça em seus braços. “Eu vou só dormir aqui, então.”
“Eu vou pegar um cobertor pra você, porque Petra não estava mentindo quando disse que iria esfriar bem rápido aqui.”
“Mkay.” As pálpebras dele se fecharam. “Obrigado, Levi.”
Eu fui ao quarto de Petra para ver que ela e Jean já estavam dormindo. Como sempre, ele estava esparramado como se fosse sua missão de vida tomar toda a cama. Petra estava acostumada com isso, entretanto, e tinha se encolhido contra ele, tomando seu calor corporal. Enquanto olhava para eles, eu sabia que eles eram as únicas pessoas que eu precisaria. Eles significavam tudo para mim. Enquanto tivesse eles, eu estaria bem.
Eu sabia disso. Eles sabiam disso. Deixar esse lugar não faria diferença.
Com cobertor na mão, eu voltei para a sala de estar. Eren estava dormindo também. Seu rosto relaxado, mechas escuras de cabelo caindo sobre sua testa e olhos. Ele parecia com uma daquelas fotos que vem nos porta-retratos quando você os compra, belo e perfeito demais para ser real. Mas ele era real, deitado ali respirando irregularmente com um punho fechado pressionado contra o peito, mesmo no sono.
Eu coloquei o cobertor sobre ele, alguma coisa apertando em meu peito quando ele se enterrou sob ele, uma expressão de felicidade em seu rosto. Eu o admirei por uma fração de segundo antes de deixá-lo deitado lá sozinho, porque eu não iria me apegar a ele.
Nem agora. Nem nunca.
Artista: Yomi

Notas da autora:
Levi, Levi, Levi. Não resista a atração, bebê.
Ele com certeza tentará resistir, porque ele é teimoso aff. -__-
(Nós todos sabemos que ele está lutando uma batalha perdida)
A todos, obrigada pelos comentários e kudos. Vocês são minha fonte de inspiração. <3

P.S. (Estou começando a fazer isso de novo. Pfft. Eu não fazia isso desde minha primeira fic) Os resumos dos capítulos serão letras de diferentes músicas que eu escuto enquanto escrevo o capítulo.

8 Comentários

  1. Olha ele sgindo todo fofo e negando seus sentimentos... Sei onde isso vai dar <3
    P'Phil

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  2. Tô adorando, mas com medo de acabar chorando no fim desta fic....

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  3. Levi é muito grosseiro, por deus kkkk

    Quem não criaria um sentimento, uma afeição a essa doçura do Eren? Só aqueles com o coração negro!

    Obrigado pelo trabalho♥♥

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  4. Essa história é muito fofinha, mas estou morrendo de medo do final.

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  5. Ai que lindo . Amando arco-iris rsss

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  6. #Flavio está assistindo? Rsss você vai amar esta estória. 💋

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